Saudade é Doer-nos o Tempo
Foi preciso chegar muito perto dos 50 anos para ele saber o que realmente significava saudade. Até a ver partir, ou melhor, até a ver de soslaio a entrar naquele maldito corredor que a levaria à porta de embarque, ele não fazia a mínima ideia, embora pensasse o contrário, do que era sentir saudade; nó na garganta, chorar sem emitir o mais breve som, doer a cabeça, temer em angústia que nunca mais a visse ou, quiçá, simplesmente não conseguir sobreviver a muito mais tempo sem a ver. Saudade, ficou ele a saber, é doer-nos o tempo porque ele se abranda até ao momento do reencontro.
Até lá, ele conta apenas com as ruas de Lisboa para lhe darem sentido à deriva que se instala.